Daniel Walker
Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
100 Anos de História,
Fé e Devoção
1908 - 2008
Tudo começou com uma promessa
No livro de Amália Xavier de Oliveira (O Padre Cícero que eu conheci) consta que a Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro cuja construção foi interrompida várias vezes só foi concluída em 1908, mas não se sabe nem o dia nem o mês. Foi seu pai, José Xavier de Oliveira, quem a construiu com recursos do Padre Cícero. A capela foi construída para pagar uma promessa feita pela Sra. Hermínia Gouveia, em virtude da graça alcançada pela cura de uma doença (erisipela) da qual estava acometido o Padre Cícero. Dona Hermínia não era beata, mas uma senhora casada (depois viúva), que veio da cidade de Jardim, Ceará, para Juazeiro e aqui se tornou grande amiga de Padre Cícero, que foi seu conselheiro espiritual.
Mesmo suspenso de ordem por conta da questão do milagre da hóstia, Padre Cícero começou a construção da capela que logo foi paralisada por determinação do vigário de Crato, padre Quintino de Oliveira e Silva, para cumprir uma exigência do bispo de Fortaleza, Dom Joaquim José Vieira. Dona Hermínia ficou muito contrariada com esta decisão, mas com a chegada de Dr. Floro Bartolomeu da Costa a Juazeiro, em 1908, ela pediu sua interferência para continuar a construção, pois se encontrava muito doente e não queria morrer sem ver a capela concluída.
A pedido de Dr. Floro, o Sr. José Xavier de Oliveira, pessoa de extrema confiança de Padre Cícero, procurou o vigário de Crato e conseguiu deste a aprovação para continuar a construção, desde que Padre Cícero não tivesse nenhuma participação. Mas o certo é que a construção continuou sob a responsabilidade financeira de Padre Cícero. Quando o prédio recebeu a cobertura, dona Hermínia morreu. Então, Padre Cícero em sinal de gratidão, resolveu sepultá-la no interior da capela.
Ao tomar conhecimento deste fato, o vigário do Crato profundamente irritado tentou impedir a todo custo o sepultamento, e como não conseguiu, porque Padre Cícero permaneceu firme na sua decisão, proibiu novamente a construção da capela.
Dr. Floro assume o comando da construção
Aí Dr. Floro, conforme disse em discurso pronunciado na Câmara Federal e depois transformado em livro, resolveu terminar a obra sem mais ouvir ponderações do Padre Cícero nem de ninguém, assumindo sozinho todas as conseqüências que tal decisão pudesse acarretar.
Bispo não benze a capela
Concluída a obra, o bispo não concordou em benzer a capela para uso de cultos religiosos e determinou o seu fechamento até segunda ordem.
Em 17 de janeiro de 1914, quando estava em curso a chamada Revolução de 14, morre a beata Maria de Araújo e Padre Cícero manda sepultá-la na capela. Também fez o mesmo quando morreram sua mãe, dona Quinô, sua irmã Angélica, e até uma doméstica de sua casa, de nome Maria Joaquina. Tudo isso contribuiu para que a tão esperada bênção da Capela do Socorro fosse cada vez mais retardada, contrariando a população e principalmente o Padre Cícero.
Romeiros desobedecem e abrem a capela
No dia 9 de dezembro de 1921 num ato de ousadia e desrespeito, um grupo de romeiros indignados invade a capela e lá passam a noite cantando e rezando. Padre Cícero achando que isso era uma afronta aos seus superiores resolveu intervir e os romeiros se retiraram pacificamente.
A capela é benta 24 anos depois
Embora tenha sua construção concluída em 1908, somente 24 anos depois, ou seja, no dia 10 de junho de 1932, a Capela do Socorro foi finalmente benta, segundo está no livro Formação Religiosa de Juazeiro do Norte, de Mário Bem Filho. Assim, a conclusão que se tira é a seguinte: neste ano de 2008 o prédio da Capela do Socorro completa 100 anos de construção, mas ela oficialmente como templo religioso só existe a partir da data em que foi benta. Até então, isto é, de 1908 a 1932, ela não sediou nenhum ato religioso oficial. Padre Cícero nunca celebrou missa nela, pois desde 1892 estava suspenso de ordem.
Fatos importantes
A Capela do Socorro ocupa espaço importante na história de Juazeiro do Norte, razão por que é um dos principais locais de visita dos romeiros e dos turistas que vêm a nossa cidade. Tudo isso se justifica em face dos inúmeros fatos importantes que fazem parte da sua história, dentre os quais podemos destacar: O sepultamento do Padre Cícero, no dia 21.07.1934 (um dia após a sua morte) – A exumação do corpo da beata Maria de Araújo, por ordem do vigário de Juazeiro, Monsenhor José Alves de Lima, no dia 22.10.1930, sob o pretexto de que o túmulo construído ao lado direito da capela ocupava muito espaço e impedia a passagem dos fiéis – A fundação da Confraria de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em 25.06.1950, a pedido de Mons. Lima ao bispo Dom Francisco de Assis Pires, tendo como primeiro presidente a Sra. Cristina Arrais Almeida. A presidente atual é Joana Angélica Feitosa Leonel - A inauguração da Torre Monumental com o relógio, marco em homenagem aos 70 anos da morte de Padre Cícero e a inauguração dos lindos vitrais, dois dos quais com as figuras de Padre Cícero e da beata Maria de Araújo, no dia 13.05.2006, pelo Pe. João Bosco – A transformação da Capela em Reitoria por ato do bispo Dom Fernando Panico, em 20.12.2002 – A instituição da Hora da Graça, pelo Pe. José Alves, em 27.06.1976 e da Missa do Dia 13, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, pelo Pe. Luís Parente por sugestão de Maria das Graças Veras Teixeira - A tradicional Missa do Dia 20, celebrada todo mês em ação de graças pela alma do Padre Cícero. E também a famosa Missa de seu aniversário, no dia 24 de março. Durante muitos anos o próprio pároco da Matriz de Nossa Senhora das Dores, Padre Murilo de Sá Barreto, foi o celebrante oficial – A bênção do Papa João Paulo II para os devotos da Capela do Socorro, cuja placa comemorativa foi afixada pelo Pe. José Alves. Vale lembrar também que o famoso Frei Damião celebrou várias vezes e a cantora Dalva de Oliveira entoou alguns números musicais, quando esteve em Juazeiro para pagar uma promessa feita ao Padre Cícero (para recuperação da voz).
Em sua existência centenária a Capela do Socorro passou por várias reformas, mas no geral sua estrutura ainda é fiel à original. Neste breve histórico é impossível citarmos os nomes de todos os benfeitores e zeladores da Capela do Socorro. Mas, não poderíamos, por uma questão de justiça, de fazer menção a um seleto grupo de pioneiros e pioneiras abnegados que deram a sua melhor contribuição para que a Capela do Socorro trilhasse o caminho da glória. Dentre tantos, podemos citar: O maestro João Boaventura que abrilhantava as missas tocando (no órgão) lindas músicas sacras acompanhadas de um coral formado, entre outras por Nair Silva, Maria de Beato e Alexandrina; Albertina Veras Teixeira, Chiquinha Dantas, Bideza, Terezinha Morais, Maria das Dores Bezerra, Rejane, Socorrinha, Maria Coló, seu Roque, seu Pedro, João Alves, João Peixoto, José Matuto, beata Bichinha, Aluísio, o cantor Francisquinho, Vanderlei, Assis, Diva Pinheiro, Mundinha Paiva, dona Quiterinha, dona Neném, Manoel Balbino, Irmã Alicantina, Cicinha e Romana e os dois primeiros ministros da Eucaristia, seu Matias e seu Expedito Garcia. Deixou boa recordação o incessante trabalho de dona Cristina Almeida especialmente na confecção dos andores e do presépio nos festejos natalinos, dos quais muita gente ainda hoje recorda com saudade.
Capelães e Vigários Paroquiais
O primeiro Capelão da Capela do Socorro foi o padre Silvino Moreira Dias (falecido). Os padres que o sucederam foram sendo chamados de Vigários Cooperadores e atualmente de Vigários Paroquiais. São eles:
Pe. José Alves de Oliveira
Pe. Sebastião Pedro do Nascimento
Pe. José Almeida dos Santos
Pe. Paulo Francisco de Moura
Pe. Luis Martins Parente
Pe. João Bosco Lima
Pe. Paulo Lemos Pereira
Pe. Sebastião Bandeira
Pe. José Cláudio da Silva
Pe. José Ricardo Barros de Sales
Pe. Joaquim Cláudio de Freitas
Bibliografia
Bem Filho, Mário. Formação religiosa de Juazeiro do Norte. Fortaleza: ABC Editora, 2002.
Costa, Floro Bartolomeu da. Juazeiro e o Padre Cícero. Natal: sebo Vermelho, 2004. 2ª. ed.
Della Cava, Ralph. Milagre em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Oliveira, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci, Rio de Janeiro 1969.
Informações prestadas pela Professora Graça Veras Teixeira.