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 DANIEL WALKER


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Pe. Cícero e o luto do dia 20

JUAZEIRO, PADRE CÍCERO E O LUTO DO DIA 20

Daniel Walker

                  Quem visitar Juazeiro do Norte no dia 20 de qualquer mês, certamente ficará surpreso por encontrar pelas ruas, lojas, shopping, bancos e repartições públicas, enfim, em qualquer lugar, milhares de pessoas trajando roupa preta, em sinal de luto fechado. A surpresa logo desaparece quando se toma conhecimento de que se trata do já tradicional luto pelo Padre Cícero, cuja existência já passa dos 60 anos.

         Vamos explicar como tudo começou. A Professora Maria Assunção Gonçalves, notável educadora juazeirense, e ainda em pleno gozo da vida, conta que quando Padre Cícero morreu, em 20 de julho de 1934, muita gente já foi ao enterro dele vestindo preto. Todo o estoque de tecido preto de Juazeiro foi comprado, esgotando-se também os estoques das cidades vizinhas, tamanha foi a procura. Quem não conseguiu pano preto, teve de apelar para o tingimento. Quem não conseguiu tinta, usou barro preto, conta dona Assunção.

          A princípio, o luto era mesmo em sinal de pesar pela morte de Padre Cícero. Logo depois, surgiram as primeiras promessas, cujo pagamento consistia em assistir, vestindo luto, à missa de Padre Cícero, celebrada religiosamente todo dia 20 de cada mês, conforme o pedido deixado pelo padre no seu testamento. Em geral a promessa consiste em assistir à missa e continuar de luto por todo o dia.

           O hábito foi rapidamente se alastrando, atingindo cada vez mais devotos e, atualmente, ao contrário do que aconteceu no passado, onde só adultos (especialmente mulheres) aderiram, o costume é adotado por pessoas de todas as idades, independentemente de sexo e classe social. A princípio era apenas a missa celebrada pela manhã, às 6 horas, na Capela do Socorro; de uns tempos para cá está sendo celebrada outra, às 17 horas, ambas com uma grande assistência.

            Os mais velhos e mais recatados usam roupa discreta; os mais jovens, conforme a moda, lá estão assistindo à missa e depois desfilando pela cidade vestindo um short  uma bermuda, uma camiseta, uma calca jeans, etc.  Na verdade, o que importa mesmo é estar de luto, nem que seja de roupa branca, que é outra opção mais moderna e ate mais adequada ao clima da região.

             Mas como não podia deixar de ser, em se tratando das coisas ligadas ao Padre Cícero, há quem veja nessa atitude uma espécie de fanatismo, opinião professada até mesmo por gente residente em Juazeiro do Norte. Entretanto, longe de ser realmente fanatismo, este fato já faz parte da vida juazeirense e até já é observado também em muitas cidades do Nordeste, onde os devotos do Padre Cícero lá residentes mandam celebrar a missa do dia 20 de cada mês e passam o dia de luto.

Uma coisa é certa: no mundo todo, somente São Francisco e Padre Cícero merecem esta distinção. Devotos de São Francisco, vestem marrom; e os de Padre Cícero, preto.